Anne K: Vive-se um momento de transição no mundo inteiro. Há uma forte tendência a auto-organização, às iniciativas autônomas e uma resistência cada vez maior às instituições (vistas como obsoletas e ineficientes). Ao mesmo tempo, essa valorização do ser, do indivíduo… gera um problema sistêmico: a busca pela simplicidade, pelo único e singelo tem, paradoxalmente, aumentado a complexidade. Está cada vez mais difícil conciliar os modelos de negócio aos interesses difusos dos indivíduos e suas redes; então qual a importância do pensamento sistêmico neste contexto?
Bernd: A variedade de formas de vida e a necessidade de pertencimento – assim como a diversidade de interesses, também requer uma gama diversa de ofertas especializadas. Houve o tempo em que haviam apenas um ou dois de canais de televisão para uma nação inteira, hoje não só há muitos canais, como também muitos outros meios de comunicação. Como consequência deste desenvolvimento, existe a oportunidade real de desenvolver novos produtos e serviços especializados, mas não apenas para perseguir tendências, e sim para estar a frente como formador de opinião. Muitos modelos novos de negócios fazem parte desta mudança: as pessoas tem outras necessidades além das materiais – isso pode ser visto graças a uma visão sistêmica do desenvolvimento social. Trata-se, cada vez mais, de uma dança de polaridades. O que se teve em pouca escala, deve ser equilibrado depois, frequentemente de forma exagerada. Esse é o desenvolvimento, são as necessidades futuras e os modelos de negócios que hoje ainda não existem.
Anne K: O curso Mudar não é preciso propõe uma espécie de jornada de auto-conhecimento. Você acredita que o auto-conhecimento é chave para a compreensão do mundo. Não acha que há, hoje em dia, um excesso no incentivo à mudança? As pessoas – seduzidas pelo discurso de inovar, mudar para viver melhor, não acabam caindo em uma espiral de ansiedade e frustração?
Bernd: Auto-conhecimento não é mais a palavra apropriada, pois nós somos compostos de diversas partes e potenciais, que utilizamos dependendo do contexto e do nosso papel. Pode-se dizer: eu sou “muitos”. Como nós nos desenvolvemos vai depender da posição que assumimos no sistema social das nossas vidas: somos pessoas necessitadas, que esperamos por presentes? Somos lutadores, que querem tirar o melhor proveito de nós mesmos? Somos apoiadores, que agem em benefício próprio e de outros? Criamos benefícios ou somos beneficiários? A outra alternativa é projetarmos sistemas do futuro, onde todos podem ganhar. Quando entendemos a nossa posição – aquilo que nos trouxe até aqui, e também aquilo que nos prende aqui – começamos a ver novas possibilidades. Pode haver uma mudança interna, ou uma mudança externa. Muitas vezes elas acontecem juntas. Isso causa boas sensações e o desenvolvimento de novas competências.
Anne K: A arqueologia do problema: sondar e desvendar problemas lidando com suas origens. O desenho do problema: delimitar e analisar suas interfaces. Estas coisas se aprendem? Dá para dizer que são coisas que o curso “Mudar não é preciso” vai gerar de insights para quem o fizer?
Bernd: Nós aprendemos e entendemos como as coisas da vida se completam: pensamento, ação e experiência. O mundo externo e o mundo interno; o passado, presente e futuro. Nós descobrimos as nossas possibilidades de escolhas e fazemos as conexões corretas. É como se fossemos fazer a mala para fazer uma viagem por um mundo que não é fácil…abrir mão do que não precisamos mais e levar só o que nós precisamos, o que vai nos ajudar a ver o mundo e enfrentar as ondas durante a nossa navegação, e tudo isso em uma boa conexão com os outros
Anne K: Há um certo desgaste, uma espécie de banalização do coaching no Brasil. Entretanto, há uma grande demanda – inclusive social no país, por aspectos que fazem parte da essência do coaching: orientação, apoio e personalização da aprendizagem. Há demanda para pessoas capazes de estabelecer elos da vocação à mobilização. Qual você acha que deve ser a postura do coaching em um cenário como este? E mais: quando é que o coaching vale à pena?
Bernd: O Coaching tem muitas facetas e, nos tempos atuais, existem muitos produtos que são rapidamente vendidos com promessas superficiais. Por isso é importante prestar atenção em duas coisas: a atitude do coach e a qualificação. Vamos comparar o coaching com a gastronomia: a proposta seria vender para todos a mesma comida, ou oferecer um buffet com variedades, de modo que cada um se sirva daquilo que gostar mais? Eu estou pronto, como coach, a oferecer opções aos meus clientes? Eu trato os sintomas, ou olho para as causas? Provoco motivação superficial ou proporciono ao meu cliente novas experiências de aprendizagem que ele poderá integrar ao seu futuro? Trabalho em equipe, ou sou dominante? O nosso mundo precisa de pessoas que têm muito a dar, que estão dispostas a cooperar, que se importam em deixar um legado. Todos esses são fatores que fazem a diferença nos Coaches.
Anne K: Apesar de você estar, há mais de 10 anos, a frente do Metaforum como fundador e líder, você nunca esteve em João Pessoa e Maceió. Está curioso sobre o Nordeste? Quem você gostaria de convidar para participar do curso Mudar não é preciso?
Bernd: Sim, estou bem curioso, pois sei que no Nordeste vivem brasileiros que têm bastante abertura e energia, com um enorme coração. Sei do potencial dos nordestinos, e existem pessoas que não estão olhando apenas para São Paulo, e sim para outras partes do Brasil – com identidade própria e talentos a serem descobertos. Eu sou uma dessas pessoas e tenho vontade de fazer trocas com quem queira se empoderar da própria vida, assumir suas responsabilidades como ser humano, e acima de tudo, com pessoas que entendam que todos somos parte de um grande sistema. Se você pensa em mudanças como algo precioso e desafiador, seja bem vindo.
Serviço:
Bernd Isert estará de 24 à 27 de novembro em João Pessoa e Maceió.
Coaching Summer Camp
Em João Pessoa – 24 e 25 de novembro
Maceió – 26 e 27 de novembro
Inscreva-se aqui