Des-envolver

O americano Robert Kegan, autor do livro The Evolving Self, dedicou 30 anos de pesquisa a sua teoria dos níveis de desenvolvimento. Segundo ele, nós continuamos a nos desenvolver ao nos tornarmos adultos. Os seus estudos complementam os de Jean Piaget sobre desenvolvimento na adolescência.

Imagine dois adolescentes de 18 anos que desistem de assaltar um casal de idosos por motivos distintos: Um deles desiste por que tem medo de ser preso, e o outro por questões morais. Um desses adolescentes já está em um nível de desenvolvimento social, onde “o outro” importa. Já o outro, ainda está preso aos seus próprios interesses.

O adolescente com valores morais vai virar adulto, pertencer a alguns grupos, escolher sua religião, cultivar seus valores e viver conforme suas crenças. Vai funcionar muito bem, até que ele pode começar a se questionar, ou a não se “encaixar”. Para exercer algum protagonismo, muitas vezes temos que romper com alguma relação social. Isso é doloroso. Desenvolver o seu protagonismo significa questionar algumas regras, encontrar caminhos individuais. É como ser o autor da sua própria história, fazer uma triagem do que é interessante ou não, filtrar. Poucos conseguem chegar a esse estágio antes dos 40. Alguns nunca conseguirão.

Todo herói tem o seu lado sombra. Segundo Kegan, o último estágio de desenvolvimento ocorre quando o ser humano encontra falhas no seu próprio plano. É como se assumisse uma posição de observador, e olhasse para o “todo”. Nessa fase, há sinergia entre criador e criatura, ou seja, entre o ser e o planeta onde ele vive.

O filósofo Ken Wilber adiciona aos níveis de Kegan o conceito de integração. Segundo Wilber, ao mudar de nível, nós transcendemos e absolvemos os conhecimentos do nível anterior. Ao transcender e integrar, dispensamos verdades absolutas. Acolhemos o conhecimento com o amadurecimento de quem já “mudou” de fase.

De que adianta saber como funciona se não colocamos em prática? Como funciona essa transição de níveis? O que precisamos para alcançar níveis avançados de desenvolvimento? Como estou em relação aos demais? Sou mais ou menos desenvolvido?

Segundo Kegan, essa discussão é desnecessária. O importante perceber é que não queremos ser lagartas. Queremos voar, como belas borboletas. Para passar de nível, existe um pré-requisito básico: viver e se envolver. Isso mesmo. Envolver. Com a sua própria vida e dilemas, complicações e complexidades. Todos nós, em algum momento, receberemos o convite ao novo.

Não há luz sem sombra. Se desenvolver é acolher suas limitações como algo positivo e promissor. Só um problema maior do que o que você consegue lidar vai te levar à evolução. Só desafios maiores do que os habituais vão te provocar a fundo, a ponto de usar todo o seu potencial e avançar. Não há borboleta sem casulo. Não há casulo sem lagarta, e não há evolução sem processo.

Anne K.

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