O Dia dos Namorados me lembra muito a minha adolescência, quando eu descobri a importância de pertencer e escolhi os meus grupos e comunidades para fazer parte. Esse comportamento é perfeitamente compreensível e, segundo o filósofo americano Ken Wilber, é típico do nível 4 (mítico) de desenvolvimento. Wilber descreve, em vários de seus livros, 7 níveis de desenvolvimento e ressalta que todos são importantes. Ele também fala do ato de transcender, ou seja, avançar de nível, integrando todo o aprendizado e sem nunca esquecer da importância da visão sistêmica.
E o que os níveis de desenvolvimento têm a ver com o Dia dos Namorados? Quando eu tinha 16 anos e celebrei o meu primeiro Dia dos Namorados, era muito importante para mim pertencer a todo esse movimento, afinal de contas eu tinha um namorado e formava um casal, critério fundamental para pertencer plenamente a este dia. Eu comprei um presente, ganhei um presente e saí para jantar fora. Eu cumpri, como boa participante que sou, todo o protocolo do grupo dos casais do qual eu fazia parte.
Ainda cumpri esse ritual durante algum tempo e confesso que a partir do terceiro ano passei a sentir um certo desconforto em fazer parte dessa comunidade. Eu vivi situações do tipo: conseguir uma mesa para jantar à meia noite e quase adormecer em pleno jantar, pagar o dobro do valor normal em um restaurante ou me sentir constrangida por receber tantos presentes e não conseguir retribuir à altura. Eu pertencia e percebi que aquilo tudo não me representava mais.
Questionar crenças e verdades significa evoluir. Eu não sabia, mas, seguindo a lógica do Wilber, estava entrando em contato com o nível de desenvolvimento seguinte, o nível 5 (racional). Nesse nível, alguns grupos e comunidades perdem a força em nossa vida e nós nos posicionamos de forma mais individual, tendo que lidar com reações adversas de algumas pessoas, algumas muito queridas, que não compreendem um ou outro movimento.
O meu novo posicionamento diante do Dia dos Namorados, desde que eu percebi que não preciso pertencer a essa comunidade, é dizer não a todos esses convites que vêm de todas as partes: presentes, postagens românticas, homenagens apaixonadas. Sem contextualizar, pode até parecer que ela é uma crítica às pessoas que adoram celebrar a data. A minha postura não é contra as atitudes e comportamentos das outras pessoas. Ela é a favor do que eu acredito e é adequada à minha personalidade.
Eu não tenho mais 16 anos e o senso de pertencimento ganhou outro significado para mim: me sentir em casa. Pertencer a mim mesma. Ser fiel ao que acredito. Não fazer nada que me faça sentir desconforto. Entender que mesmo que um grupo muito grande de pessoas apoie uma iniciativa, eu posso não querer apoiar. É seguir os meus próprios critérios de satisfação.
O Dia dos Namorados é só mais um dia. O significado que ele tem para as pessoas é que vai fazer a diferença. Celebrar por celebrar, num efeito manada, é compreensível aos 16 anos. Depois de uma certa idade, a celebração (ou a não celebração) deve ser consciente e por convicção. Vale a reflexão.