Imagine um guarda-roupa cheio de roupas, e sem rotatividade. Na prática, não usamos a grande maioria das roupas que estão no nosso armário. Insistimos em usar as mesmas peças, muitas vezes desgastadas. Elas entram e saem, são lavadas, passadas e usadas, enquanto muitas outras acumulam poeira e são esquecidas. E muitas vezes até acordamos com o desejo de usar algo novo, diferente, e pensamos em sair para comprar novas peças. A solução parece vir de fora, sobretudo das belas vitrines cheias de roupas lindas, novas e cheirosas.
O que muitas vezes esquecemos é de buscar o novo dentro do nosso próprio armário. O que aconteceria se você retirasse do armário tudo aquilo que você mais usa? Como seria olhar para os 80% de peças empoeiradas e dar as boas vindas? Pode ser desconfortável de repente ter que usar peças que sempre estiveram disponíveis e você nunca deu importância.
O pensamento sistêmico tem uma gramática para quem precisa liberar espaço. Nesse contexto, a intervenção mais adequada é “deixar ir”.
É fácil sentir a necessidade de viver algo novo, é gostoso pensar em todas as vantagens de se abrir para esse novo, e é difícil liberar este espaço. Deixar ir significa encerrar ciclos e se despedir com gratidão de situações, comportamentos e até pessoas que já cumpriram o seu papel no seu processo de desenvolvimento. Esse movimento abre o caminho para a mudança.
O desconforto faz parte. A adaptação também. O mais importante: Dedicar um tempo para todo o processo. Muitos imaginam ser possível iniciar algo novo antes de se encerrar ciclos e antes de deixar ir. A pergunta que se deve fazer é: Onde esse “novo” vai se acomodar, se não se abre um espaço para ele usar? Onde acomodar peças novas em um armário lotado?
Eu parei um pouco e percebi que estava repetindo as mesmas roupas. Me senti incomodada de não explorar as possibilidades do meu guarda roupa. Refleti um pouco a respeito. Separei um tempo na minha agenda. Tirei todas as peças do armário. Me despedi de várias (quase todas). Dei as boas vindas àquelas que eu nunca havia usado, ou as que eu nem lembrava que estavam lá. Fui às compras e trouxe peças novas. Organizei tudo.
Desenvolver-se é uma escolha, e faz parte do processo observar, perceber, agir e sentir. Cada uma dessas etapas leva o seu tempo e tem a sua importância e o seu valor. No final do dia, o que nós queremos é estar bem, com a vida fluida e próspera, e para que isso aconteça, novos padrões de comportamento vão se moldando aos nossos desejos e ao nosso contexto. Experimente.
Anne K.
Foto por Victoria Borodinova