Sabedoria x Decisão. Como agir agora?

Estamos vivendo um marco na nossa história. Não existe referência de algo parecido na história recente da humanidade, e em alguns meses/anos, estaremos reunidos contando as nossas experiências durante e após a crise: Como reagimos, o que decidimos e baseado em que. Lá na frente saberemos analisar melhor do que agora, e teremos melhores respostas também.

Fato é que algumas decisões difíceis têm que ser tomadas. E será que dá para confiar nos especialistas da crise? E dá para ser especialista de algo que nunca houve?

Segundo Alan Watkins e Ken Wilber, pensadores complexos, as decisões que tomaremos nos próximos 35 anos irão determinar o futuro da humanidade nos próximos 500 anos. Pensar sistêmico é entender que estamos conectados, vivemos em rede, e não existem eventos isolados. Os eventos estão inter-relacionados, ou seja, a sua decisão vai influenciar, de um jeito ou de outro, o sistema como um todo.

O conhecimento da humanidade se duplica a cada 13 meses, e há previsão para que esse tempo chegue a horas ou minutos nos próximos anos. Quanto mais rápido o conhecimento é duplicado, mais rápido mudamos e evoluímos, e isso também significa que aumentamos a nossa adaptabilidade. O outro lado da moeda é que quanto mais sofisticadas, mais complexas as nossas vidas se tornam.

Eu lembro de quando comecei a tomar vinho. O importante, na época, era simplesmente tomar o vinho com os amigos. Hoje, penso em várias coisas antes de escolher o vinho: o que vou comer para acompanhar, o tipo da uva, as avaliações dos experts, etc. O paladar melhorou muito, e a complexidade também.

A nossa vida se tornou mais complexa, sobretudo agora, e a questão é: como lidar com isso e como tomar as decisões?

Chegou a hora de invocar a sabedoria.

A antropóloga espanhola Angeles Arrien, conhecida pelo seu trabalho com energias arquetípicas, afirma que a sabedoria tem várias fases. Segundo ela, aos 60 anos iniciamos nossa curva de sabedoria. Aos 70 atingimos a maturidade, e aos 80 a maestria. Watkins e Wilber, já citados aqui, associam o cultivo da sabedoria a nossa transformação pessoal, uma forma de expansão da nossa consciência individual e coletiva e uma evolução na forma que enxergamos o mundo.

A sabedoria está ligada com a sua relação consigo mesmo, com as pessoas e com o sistema. E para integrar a sua sabedoria com as suas futuras decisões, é importante se perguntar, antes de bater o martelo, como você se sente em relação a si mesmo, como se sente em relação ao outro, e como isso vai reverberar no sistema como um todo.

Voltando ao nosso tema central: Decidir é, também, correr riscos. Do ponto de vista sistêmico, não existem decisões certas ou erradas. Sob essa perspectiva, não se trata de decidir bem ou mal, e sim de ser coerente. A coerência pode ser definida, nesse contexto, como a qualidade da interação entre as relações humanas e sociais.

Em tempos de tomada de decisões, vale ativar a sabedoria, a intuição e a coerência, sobretudo entendendo que não existem ações isoladas. Somos parte de um sistema vivo que se auto regula e está em constante evolução.

Anne K. Rodrigues Kiepe
Desenvolve pessoas na linha da visão sistêmica.

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