Procrastinar: adiar, prorrogar, remanchar, demorar. Todas essas palavras nos remetem a algo que ainda não está pronto. É desconfortável usar qualquer um desses verbos, tanto em situações em que você está procrastinando quanto em ações em que você sofre a consequência de uma procrastinação. Assim, dificilmente, vai existir alguém que nunca sofreu desse “mau”. Em 2019, a revista Exame publicou uma matéria afirmando que 20% dos brasileiros são procrastinadores crônicos e que isso leva a sentimentos relacionados à ansiedade e culpa. Por isso, podemos afirmar que mais complicado do que procrastinar é lidar com as consequências da procrastinação.
Vamos pegar o exemplo do sentimento de culpa, principalmente no contexto do distanciamento social exigido pela pandemia em curso. Quantas vezes você se sentiu culpado nos últimos meses? Este sentimento de culpa é seu ou é resultado da expectativa de outras pessoas em relação a você? Você realmente está se sentindo culpado em função de uma procrastinação ou apenas não conseguiu cumprir todas as tarefas imputadas a você?
Antes de responder a estas perguntas, que tal pensarmos em desconstruir o conceito de procrastinação. E se você pudesse usar a procrastinação a seu favor? E se ela não precisasse ser eliminada? Imagine que a procrastinação, o adiamento, a demora pudessem andar juntos com a produtividade, a busca pelo propósito, a espera do momento certo para agir. É importante ser produtivo, usar bem o tempo e cumprir os acordos. Tudo isso é muito relevante nas relações familiares e organizacionais. No entanto, fala-se pouco sobre a importância de ver um sentido nas ações que desempenhamos. Se procrastinamos para concluir um relatório de vendas, provavelmente, ao investigarmos a fundo esta tarefa vamos descobrir que o relatório não tem trazido retornos estratégicos. Ou seja, você ou sua equipe não estão vendo sentido na tarefa e por isso ela está sendo procrastinada. Em outras palavras, é preciso parar de rotular as chamadas “situações padrão” e realmente entender o que está acontecendo. No caso da procrastinação, talvez seja mais importante compreender do que eliminar.
Por tudo isso, vamos encarar a procrastinação não como um defeito, mas como um convite, uma mensagem, e até uma nova possibilidade. Entenda esse movimento como uma chance de mudar, de ajustar. Ao invés de lutar contra a procrastinação, esteja aberto ao dialogo, um diálogo de alto nível e pergunte-se se ainda não chegou a hora ou se já passou da hora.
Assim, ao invés de fazer listas do que você não conseguiu fazer, olhe para o que você está fazendo. Entenda em que você coloca a sua energia ativa e o porquê de tudo isso. Olhe para o todo e decida o que pode ir e o que deve ficar. Ao invés de se lamentar, opte por desvendar. Tenho certeza que você vai se surpreender. Experimente!
Anne K.