Eu trabalho em um ambiente ao ar livre e uma das plantas que circunda o meu escritório possui um néctar especial. Esse simples fato me permite interagir quase que diariamente com dois beija-flores. Eles vêm se alimentar e fazem a minha alegria. Não é algo que dura uma eternidade. São segundos. Eles estão ali por um motivo. Eu também estou ali por um motivo. O nosso encontro quase que diário acontece naturalmente, porque os nossos destinos estão cruzados.
Esse encontro virou rotina e aos poucos pequenos detalhes foram revelados. No início, eu ainda não sabia que eram dois beija-flores. Com o tempo, os reconheço. Sei quem são. Além disso, eu pude comprovar ao vivo coisas que lia nos livros: eles conseguem “parar no ar”. É algo espetacular que eu nunca consegui registrar, mas já vi várias vezes. Eles circulam a cerca de 5 metros da minha mesa e não fazem muito barulho. Ainda assim, eu sempre os vejo chegar. Eu sei e sinto. Quando eu estou com algum cliente, eu comento sobre a presença deles e, como num ritual de contemplação, fazemos silêncio até ele partir.
Eles viraram amigos e fazem parte. São bem-vindos e ocuparam um espaço. Aqui no escritório, eles funcionam como um elemento livre. Eles chegam quando querem e são sempre celebrados. Eles interagem livremente, cada dia é uma novidade. Já aconteceu de um deles ficar parado há menos de um metro de mim. Ver um beija-flor tão de perto pairando no ar foi uma das cenas mais belas que eu já vi em toda a minha vida. Foi como se o tempo houvesse parado para nós.
O que eu não sabia é que o beija-flor vive no limite da sobrevivência. Na prática, quando ele sai pela manhã para procurar o néctar, ele está com pouca energia e, por isso, precisa de uma fonte de alimento para se abastecer. A visita deles não é aleatória e eu só descobri isso recentemente, através da nossa convivência. Antes eu associava a presença do beija flor a algo mágico, intenso, um sinal de prosperidade. Com o passar do tempo, eu entendi que, assim como eu, estar ali era para ele um hábito necessário.
Nossos encontros acontecem porque cada um de nós tem necessidades específicas que, por acaso, se cruzam. Eu trabalho neste local e eles vêm se alimentar aqui por uma questão de sobrevivência. Somos as pessoas certas no lugar certo e sabemos disso. Aproveitamos esse encontro para interagir, nos cumprimentar e conviver. Nós percebemos que esse encontro não planejado tem um valor, um significado e essa percepção ganha força, ganha nome: conexão.
Como seria se ao invés de correr atrás de coisas especiais, dias incríveis e momentos inesquecíveis, você simplesmente olhasse melhor ao redor? E se você pensasse sobre o que lhe traz essa espontaneamente uma sensação de conexão? As situações mais especiais não precisam, necessariamente, ser construídas e planejadas. Elas estão em todos os lugares e só precisam ser percebidas, reveladas e vividas. Esse é o grande desafio da vida: vivê-la como ela se apresenta, captar o que está ao redor e se conectar sem precisar se esforçar. Você aceita o desafio?
Anne K.