Coronavírus: para onde não estamos olhando?

Estou escrevendo uma série de artigos sobre problemas perversos, e esse é o meu segundo texto. Se você quer acompanhar pela sequência, dá uma lida no texto 01 (também disponível por aqui). Também é possível ler os artigos individualmente.

Ainda sobre as diversas faces dos problemas perversos, gostaria de apresentar a matriz PESTLE (Fonte: Wicked & Wise, How to Solve the World’s Toughest Problems), com mais aspectos importantes a serem considerados:

P – Política
E – Economia
S – Sociologia
T – Tecnologia
L – Leis
E – Meio Ambiente

Observe que esses aspectos praticamente não levam em consideração as emoções/sentimentos das pessoas. Vamos voltar para o exemplo do aquecimento global: já foi discutido e decidido que deve-se reduzir os índices de emissão do CO2 imediatamente.

Existe um GAP entre o que deve ser feito e o que está sendo feito.

Como algo tão sério e importante está sendo tão negligenciado?

 

Todos sabem o que deve ser feito. Nesse contexto do aquecimento global, conscientizar as pessoas sobre mudanças comportamentais importantes é tão importante quanto implementar as medidas.

Esse é o ponto chave. Ninguém está olhando para as mudanças individuais de pensamento/sentimento que precisariam acontecer em nós, indivíduos, para que isso tudo saia da teoria.

Voltando agora para o Covid-19, problema atual que estamos vivendo, nota-se que o problema chave está desencadeando uma série de outras questões paralelas, que são até bem mais graves.

Aqui, no Brasil, existe algo que todos conhecemos bem e que falamos pouco a respeito. E como se fosse um tema invisível: a desigualdade.

Nós ouvimos dia e noite:

_ Fique em casa.
_ Não saia de casa.

Parece simples.
E não é.

Ficar em casa é difícil para quem não tem reserva financeira, para quem não tem recursos mínimos. Se isolar em um quarto é impossível quando a maioria das famílias só tem um quarto.

Se você está lendo este artigo de casa e tem condições, nesse momento, ainda que angustiado ou preocupado, de ficar em casa, saiba que aqui no Brasil você é minoria.

Agora o nosso problema de desigualdade vai se transformar em um grande “elefante” dentro da nossa sala. Vamos ter que “aprender” a falar sobre desigualdade e a ter novos comportamentos em relação a este tema.

Seria essa a grande mensagem “subliminar” do Coronavírus aqui no Brasil?

 

A primeira ministra alemã, Angela Merkel, se pronunciou, em uma fala serena. Ela afirma:

“Temos um dos melhores sistemas de saúde do mundo.”
“Vamos com certeza superar a crise.”
“É sério. É muito sério.”
“Queremos sair dessa preservando as vidas.”

Eu morei na Alemanha e convivi com as pessoas por lá, onde a desigualdade é bem menor do que aqui. Lá existe uma estratégia que permite às pessoas ficarem em casa, independente do nível social.

Será que aqui no Brasil o Coronavírus é apenas a última gota do copo cheio ou será que vamos aprender juntos a lidar com a desigualdade, equilibrando as relações de dar e tomar?

É muito mais do que ficar em casa.

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