O que acontece quando uma decisão deve ser tomada e você é o único responsável por ela? Eu tenho uma filha de três anos e é um desafio ter a sabedoria necessária para deixá-la decidir algumas coisas. Os critérios são: ela deve decidir sobre coisas que não afetem sobretudo o seu bem-estar, visto que ela ainda não tem maturidade para lidar com algumas consequências, ao mesmo tempo, é importante que ela aprenda a decidir, que ela crie o hábito de escolher.
Como mãe, o meu objetivo é criar condições para que ela decida com segurança, levando em consideração a sua maturidade. Certamente é mais fácil para ela escolher entre três peças do que entre todas as peças do armário. Se está fazendo muito frio, ela vai escolher entre peças que a protejam do frio.
Também faz parte do processo perceber quando ela já tiver condições de assumir mais responsabilidade sobre as suas escolhas, ou seja, é importante que eu, como mãe, saiba o momento certo de aceitar que ela opte por uma blusa de alças para uma dia chuvoso, entendendo que se ela sentir frio, já vai conseguir lidar com a consequência da sua escolha e fazer ajustes importantes nas suas próximas decisões semelhantes.
Tudo isso parece bem simples mas não é. O tempo vai passando e muitas vezes nos percebemos tomando todas as decisões da casa. Entramos no piloto automático e não lembramos de “ensinar” nossos filhos a decidir, inclusive a lidar com as frustrações envolvidas nesses tipos de processos. Viramos máquinas eficientes de resolver as coisas. Criamos seres que muitas vezes não estão aptos nem a escolher o que comer para o jantar.
Estamos no século 21 e existem estudos, artigos, livros e teses sobre performance, liderança, gestão de estados internos e inteligência emocional. Existe um modelo de organização em formação, as Organizações Teal, bem exploradas no livro do Belgo Frederic Laloux, onde um dos pressupostos é a autogestão. Uma das atitudes esperadas desse novo perfil de colaborador é a capacidade de decidir e assumir responsabilidade sobre as suas escolhas.
Um líder Teal pode decidir, por exemplo, que quer explorar outros mercados. O único pré-requisito para a aceitação da sua decisão pela equipe é que ele se aconselhe com pelo menos três pessoas sobre esse tema. Nessa conversa, a pessoa em questão vai se posicionar contra ou a favor da ideia em questão, e ainda assim, a decisão final será a do líder, e não a do “aconselhador”.
A grande sacada dessa “regra” é induzir os líderes a conversar e ouvir conselhos de pessoas mais experientes, onde eles podem amadurecer suas ideias e ter insights. Dessa forma, eles têm o bastão da decisão e poderão arriscar e seguir seus feelings e intuições, com uma única ressalva: você é responsável pela sua escolha.
As organizações Teal devem começar a existir nas nossas casas, com nossas crianças. Esse será o meu desafio. Esse será o seu desafio. Esse é o convite!
Anne K.