Há dois meses e meio, eu ligava para amigos alemães, que estavam numa situação semelhante à nossa: Início da quarentena e do isolamento. Diferenças? Muitas. Os alemães se preparam para o pior. Nós nos preparamos para o melhor. A nossa mentalidade é positiva, e acreditamos que tudo vai dar certo. Eles são mais prevenidos, e se cuidam, pois tudo pode dar errado.
Os alemães já passaram por mais de uma guerra. Eles aprenderam com a dor. São disciplinados e funcionam na defensiva. A nossa história é mais leve, e é assim que somos: Mais tranquilos, despreocupados, confiantes. Quando se olha para a pandemia, a rigidez alemã trouxe mais resultados. Eles pararam. De verdade. Sem jeitinhos, sem meio termo. Eles pararam. Os alemães estão voltando, e nós ainda estamos no caminho de tentar a parada eficiente.
No caso da pandemia, é injusto comparar o Brasil à Alemanha. São realidades distintas, e todos sabem que a Alemanha é mais desenvolvida e preparada do que o Brasil em diversas áreas, o que os torna mais fortes e assertivos de forma geral. O ponto aqui não é comparar e, sim, se inspirar.
A pensadora sistêmica Patrícia Cotton, que desenvolveu uma tese sobre “pensar ao contrário”, provoca: “Como seria se, ao invés de achar que tudo vai dar certo, você achasse que tudo vai dar errado”? De fato, como seria nos preparar para o pior cenário e calibrar a nossa expectativa nos baseando no pior?
E, se a normalidade demorar a chegar? E, se morrerem mais pessoas do que o previsto? E, se a vacina não chegar a tempo? E, se o comércio não abrir esse ano?
Talvez com uma enxurrada de cenários desafiantes, possamos nos preparar melhor e diminuir as nossas expectativas com retomadas, recomeços, novo e velho normal. Como seria, na prática, se preparar para o pior? O que você faria? Com quem você conversaria? Como se posicionaria? Para onde você iria?
E, no pior dos cenários, em qualquer contexto, pode-se encontrar algo em comum: A confiança na inteligência coletiva, a necessidade de se encontrar soluções para todos ao invés de soluções pontuais. E, para finalizar, poderíamos substituir a frase “Tudo vai dar certo” por “Tudo já deu certo”. As coisas são perfeitas como são. É o que está dado. Aceite.
Anne K.
Foto por Andrea Piacquadio | Pexels